Após dias de fortes rumores, foi confirmada no início da noite desta terça-feira (12) a retirada do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) da negociação de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour. O movito alegado para a decisão da BNDESPar – responsável por participações acionárias do banco em empresas – foi comunicado pelo Conselho de Administração do Grupo Casino, atual sócio de Abilío Diniz na rede varejista.
"A Diretoria da BNDESPAR vem a público informar que cancelou o enquadramento da operação solicitada pela Gama 2 SPE Empreendimentos e Participações S/A, em função do não atendimento às condições estabelecidas", diz a nota. Segundo a instituição, a condição para participação da BNDESPar era haver "entendimento entre todas as partes envolvidas".
Informações de que a presidenta Dilma Rousseff estava insatisfeita com a postura de setores do governo federal começaram a circular no fim da semana passada. Além disso, aumentaram as críticas à conduta do BNDES diante desse tipo de operação, ao priorizar grandes empresas na concessão de crédito e, como seria no caso da fusão de redes de supermercados, escolha de sócios para investir como acionista. Quando a conversação entre os grupos tornou-se pública, há duas semanas, o BNDES anunciou entrar com quase R$ 4 bilhões em ações da nova empresa. O banco ressaltou, à ocasião, que dependeria apenas de um acordo entre os controladores das duas redes varejistas. Porém, não sublinhou como e por que o montante investido estaria beneficiando o público.
Na segunda-feira (11), o Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF/DF) informou que pretendia investigar a participação do banco para esclarecer a legalidade da medida. O MPF quer saber, também, sobre as condições que envolvem o interesse público no uso dos recursos do BNDES e como é feita a escolha dos projetos a serem financiados pelo banco.
Segundo a Agência Estado, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), aprovou, na manhã desta terça-feira (12), convite para que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, esclareça o papel da instituição na fusão. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) destacou que os recursos do banco vêm, entre outras fontes, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e de dotações orçamentárias da União. Contrário à participação do BNDES na fusão Carrefour-Pão de Açúcar, o ex-presidente do banco, Carlos Lessa, criticou argumentos de setores do governo. A defesa da participação do setor público envolvia garantir a manutenção de controle brasileiro sobre a empresa. Isso poderia ser importante para se priorizar produtos nacionais em detrimento dos importados. "Ao que eu saiba, a associação Pão de Açúcar-Casino não gerou superavit comercial para o Brasil; a rede importa muito mais do que exporta", atacou Lessa, em artigo publicado no jornal Folha de S.Paulo.
Também crítico à participação do banco, Quintino Severo, secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e representante do movimento sindical no Conselho Deliberativo do FAT, afirma que a fusão com recursos do BNDES seria "um atentado ao bom senso". Segundo ele, não é papel de instituições públicas, bancadas pelo dinheiro dos trabalhadores, "fomentar o desemprego, o arrocho de salários e o fim da concorrência".
contribuiçao: Virginia Toledo
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