O setor do comércio ganha, mas como ficam os trabalhadores e trabalhadoras?
Não é novidade que os setores faturam e os patrões não repassam os ganhos aos trabalhadores, no entanto, durante a crise mundial isso ficou ainda mais claro para o setor do comércio brasileiro.
Com os incentivos fiscais somados aos programas de transferência de renda para a baixa renda, o consumo cresceu, mas o ganho ficou apenas para os empregadores. Os trabalhadores mais uma vez suaram a camisa, trabalharam mais e continuaram sem ganhar nada a mais por isso.
Em 2009, o comércio vendeu 5,9% a mais do que em 2008 e a receita de vendas cresceu 10%. A alta nas vendas foi registrada em quase todos os estados brasileiros, exceto em Tocantins (-2,5%) e Espírito Santo (-1,1%).
O setor de supermercado, por exemplo, teve excelente resultado faturando R$ 177 bilhões em 2009 – uma alta de 11,7% em relação a 2008. Com o aumento das vendas, o número de empregados diretos cresceu 2,6% nas redes varejistas, representando 22.838 novos postos de trabalho.
Apesar disso, as fusões continuam em alta e podem trazer graves consequências aos trabalhadores. Caso não sejam regulamentadas, as fusões podem gerar a precarização e a flexibilização das relações de trabalho além do risco do monopólio.
O faturamento das três maiores redes varejistas atingiram 40% do faturamento total do setor em 2009 (algo em torno de R$ 71 bilhões).
Faturamento das redes varejistas Grupo Pão de Açúcar R$ 26,2 bilhões
Carrefour R$ 25,6 bilhões
Walmart R$ 19,7 bilhões
G. Barbosa R$ 2,5 bilhões
Cia Zaffari R$ 2,1 bilhões
* apenas a Cia Zaffari tem capital majoritariamente nacional
Os ganhos são altos, mas os retornos para os trabalhadores e para a sociedade são baixos. Apenas 30% do total de postos de emprego gerados na economia foram criados no comércio. Em 2009, 297.157 novas vagas foram abertas. O período mais crítico para os trabalhadores foi entre dezembro de 2008 e março de 2009, quando quase cem mil postos de trabalho foram fechados.
Mas é a jornada de trabalho que continua sendo um problema para a categoria comerciária. Em 2009, o comércio registrou a maior jornada média semanal que chegava até 49 horas em Recife.
De acordo com o Dieese, o comércio continua sendo entre todos os setores de atividade econômica o que apresenta a maior proporção de trabalhadores que praticam jornada média acima de máxima legal em 2009, que é de 44 horas.
Apesar das muitas horas trabalhadas, os comerciários não receberam mais por isso. Comparando com os outros setores, os comerciários receberam os menores rendimentos médios – maior apenas que o ganho dos trabalhadores domésticos. A remuneração média dos ocupados no setor do comércio situou-se entre R$ 625,00 e R$ 1.078,00.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs-CUT) defende que não bastam condições favoráveis de crédito ao consumo, melhoria do aumento real e do emprego e estabilidade dos preços para sustentar bons resultados na economia. É necessário que as condições favoráveis à economia estejam atreladas às condições favoráveis de trabalho e remuneração dos trabalhadores e trabalhadoras no comércio.
Enquanto os bons resultados vierem em detrimento das condições dignas de trabalho toda a sociedade estará perdendo.
Lucilene Binsfeld, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs-CUT)
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